Vivemos um momento de fronteira. Em nenhum período da recente história republicana brasileira estivemos tão explicitamente confrontados com o risco de o absurdo invadir com tamanha volúpia a cena social, política e econômica. Diariamente, nas redes sociais e nas ruas, nos deparamos com declarações controversas produzidas por diferentes lados. A diversidade de pensamento está na iminência de ser, premeditadamente, assassinada, com requintes de crueldade.
Legitimada pela adesão de parte importante da cidadania, que, talvez, pelo ritmo frenético da difusão de dados e informações pela internet, milhares das(os) quais fakes, pelas jornadas cada vez mais longas e extenuantes do mundo do trabalho, ou pior, pela luta inglória por um lugar ao sol, seja em busca de trabalho ou emprego, seja em busca de consolidar um empreendimento neste contexto de severa retração econômica e brutal incerteza institucional. Inobstante, não é razoável, sequer racional, naturalizarmos discursos defendidos por alguns como política de Estado. Isso porque a linguagem constrói realidades.
O pseudo-argumento de que se está diante do imperativo de uma "guerra" contra o "mal", fabricada discursiva e digitalmente com o aporte dos mais modernos e pouco transparentes recursos tecnológicos, na qual vale(ria) tudo, é um sinal evidente de que o ódio está vencendo a paz; o medo, a segurança; a violência, o diálogo; o desrespeito, a urbanidade; a barbárie, a civilização, a começar pelos aspectos simbólicos. Em um contexto assim, não resta dúvida: a vida como conhecemos até aqui, com suas alegrias e desventuras, pode sofrer uma mudança radical, não necessariamente para melhor. É por essa razão que o compromisso cívico deste domingo se reveste de um caráter singular. A natureza e a qualidade da nossa participação política definirão, em um futuro próximo, a educação que queremos, a saúde que precisamos, a segurança que teremos, ou não.
Não podemos, por consequência, restringirmo-nos ao mero teclar deste ou daquele número nas urnas, já que até para dizer sim, há que se renunciar ao não! Nesse particular, tenho encontrado pessoas de vários perfis, trajetórias pessoais, familiares e profissionais distintas, de inúmeras partes e regiões do Brasil, justificando suas escolhas políticas pela lógica binária, sempre reducionista, de um candidato para evitar o outro. A opção, portanto, não tem sido balizada por critérios éticos, técnicos ou políticos acerca do que é melhor para o Brasil. Pelo contrário, elementos emocionais parecem estar orientando e colonizando fortemente a decisão do eleitorado.
A democracia necessita ser compreendida como um valor, a despeito dos (des)caminhos da consolidação de um Estado Democrático de Direito verdadeiramente substantivo por estas terras. Domingo será o dia de, mais uma vez, reforçarmos nosso apreço pelo respeito e pelas possibilidades reais da construção de um Brasil mais justo, íntegro e solidário! Vote com consciência. O país e o mundo demandam uma cidadania ativa e altiva por uma sociedade menos violenta e mais pacífica!